terça-feira, 2 de março de 2010

Confissões de uma mal amada?

    Já dizia Neruda: é tão difícil as pessoas razoáveis se tornarem poetas, quanto os poetas se tornarem razoáveis. Talvez esse falta de razoabilidade tenha me feito dar preferência a poesia. Gosto da intensidade, gosto de eternizar a intensidade. Nas minhas poesias, os fins são sempre intensos. Na prosa não, é cansativo. Na maioria das vezes os fins são esperados, sem sal e útopicos demais. A realidade é bem diferente. O mocinho e a mocinha nem sempre ficam junto no final. Pra ser mais realista, eles nunca ficam junto no final. Por isso que me falta estima pela prosa. Gosto do real, do concreto. A minha poesia me transmite isso. Gosto dos sentimentos intensos, mas todo sentimento é fugaz, acredite. O tempo é capaz de varrê-lo. Então pra quê perder tempo? A intensidade me faz sentir viva, me faz entrar em contato com a minha alma, faz com quê ela esteja muito mais presente, muito mais livre.
     Num certo momento você encontra seu par ideal, o homem dos seus sonhos, é tudo perfeito, vocês fazem planos e resolvem se casar. Casam, passam dois anos com a vida sexual intensamente ativa, depois do quarto ano, você tem muito mais dor de cabeça e cansaço do que desejo. A vida caí na rotina, seu companheiro passa a ser algo comum. E o comum cansa. Vocês passam a ter mais dias infelizes que felizes. O tédio toma conta da sua vida. Com 30 anos de casamento, a consciência pesa. Porra, irei jogar 30 anos construídos fora e começar do zero? O que as pessoas irão pensar? Daí você resolve empurrar com a barriga e esperar a morte chegar. E antes de dormir, você vai lembrar que só conheceu uma forma de amar. 
     Particularmente  não quero isso pra minha vida. Não quero basear minha vida numa rotina. Eu não posso me acomodar. Quero tá sempre com um plano B, quero ser livre, pertencer apenas a mim mesma, quero ser como um marinheiro, ter um amor em cada porto e amar de todas as maneiras.Quero ter decisões exclusivas, quero paz.Solidão é coisa pra quem não tem amor próprio.Por isso irei ocupar os vazios da minha casa com livros,objetivos e fotos de viagens. Já me acostumei com a idéia de comer macarrão instâtaneo em pleno reiveillon, assistindo um filme água com açúcar. Quero ter o poder sobre mim mesma,sobre minhas ações. Quero só a mim, isso me basta.

3 comentários:

  1. Confissões de uma mal amada? Não mesmo, pura observação e senso.

    Muito bom Jéssica, o anterior já conhecia, até comentei que tenho algo parecido aqui. Não perca o link de novo senão seus leitores ficam a ver navios!

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  2. Nossa Jessica ,muito bom. Mas pra mim não é surpresa pois desde a primeira vez que eu te vir na sala de aula, saquei logo seu grande talento. parabéns,continue estudando que deus ilumina o teu caminho.

    Luiz Henrique Soares.

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  3. auto-crítica do personagem se questionando sobre coisas reais.. que muitos não se questionam e passam a vida a margem do que é verdadeiro e real.. a verdade sobre o amor... e que é? e como foi? não sei não sei, mas estou me perguntando a cada dia!

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