sábado, 27 de novembro de 2010

Uma verdade nua e crua


       Eu sei, talvez a maior parte da culpa seja minha, por sentir a tua falta, por querer ficar perto mais um pouco. É egoísmo meu te querer só para mim. Mas é dessa louca aqui que você gosta. Da controladora de situações que faz questão que tudo saia à maneira dela. Da menininha insegura que toda vez que está em apuros te liga implorando socorro. E não da adolescente que você ensinou a ser mulher. A ter uma postura mais segura e decidida. A olhar de cabeça erguida e manter a espinha ereta. Da mulher emocionalmente estável, independente e indiferente...
     - Ei, mas  foi você que me fez assim, lembra?! Então tente não ficar mal quando perceber que o seu plano de me ajudar a manter um relacionamento estável, está dando certo. O que você não esperava é que fosse se apaixonar por mim. Não pela nova menina que você ajudou a criar, mas pela menina que eu era quando te conheci. Você me gosta assim, cheia de defeitos, de manias, das minhas conversas intelectuais sobre política, cultura, crise da bolsa de valores. Você gosta da maneira com eu dividia um sorriso com algumas lágrimas quando fracassava. Do meu jeito de arrancar piadas irônicas até nas piores situações. Gosta mais ainda da minha capacidade de superação e da minha necessidade de você. Você gosta dos meus planos utópicos e de quando meus olhos brilham quando eu conto algum desejo futuro. Interessante é que você discorda de todas as minhas ideias loucas, mas o que eu nunca consegui entender  foi o porquê de você nunca ter saído do meu lado... Agora me diz se você não amasse a mim e aos meus defeitos, por que essa mania tão grande de me proteger? Por que esse medo de me deixar cair? Não é você que sempre dizia que eu precisava amadurecer sozinha? O que você não admite é que esse teu jeito machista de ser não funcionou nenhum na hora de impedir que você me amasse. Você foi a primeira pessoa a dizer que eu necessitava encarar as situações, no entanto, foi primeira também a fugir quando se viu perdidao de amor pela última pessoa no mundo na qual você gostaria de amar . Talvez você não queira se perder para não correr o risco de se encontrar em mim. Mas meu amigo, aprenda de uma vez por todas que ninguém é perfeito e a vida é assim. E não vai adiantar você fugir, que se for do meu destino e o do seu, não vai existir continente suficiente capaz de nos separar. Aprenda vá.



quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Cadê você?

      Você me dá paz. É deliciosa a certeza de te ter, mesmo quando não estamos juntos, quando eu passo o dia na correria do trabalho, tendo que conciliar meus planos para o futuro com o presente. Juntando na mesinha de estudo do meu quarto os livros tirados da estante que gritam por mim, implorando para serem lidos. Os artigos científicos que eu preciso escrever, o curso de língua estrangeira que eu preciso concluir, os milhares de sms que a minha chefe manda, ordenando que eu adiante o trabalho. Tudo isso não me faz esquecer de você. Quando chego em casa, encontro a pia de pratos sujos, o gato com fome, a cama desarrumada, daí eu respiro fundo, fecho os olhos e o máximo que eu consigo fazer é tirar os meus sapatos, jogando-os em algum canto da sala junto com todo o meu material de trabalho, entrar no banheiro e nesse exato momento pensar em você. Como seria bom ver você com essas suas manias psicóticas de extrema organização, brigando porque esqueço a calcinha molhada pendurada no box do banheiro, recolhendo as minhas bagunças e resmungando que eu não tenho mesmo jeito. Que saudades de você. Do seu jeito britânico pontualíssimo e organizado de ser, das suas piadas inapropriadas, da sua carência demasiada. Que saudades de você, mas que dia corrido... Deito na cama, olho para o relógio, vejo que já passou das onze e que nessa altura do campeonato você estaria dormindo. Fico na ânsia de mandar uma mensagem, mas temo em te acordar. Então olho para os trabalhos acumulados, penso em terminá-los o mais rápido possível, para que junto com eles a semana acabe e eu possa te ter  e te ver de novo. E antes de adormecer por completo, fecho os olhos e tudo que eu desejo é te ter mais ao meu lado, nem que seja na hora de dormir. 









segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Auto-retrato contado

         Para ser sincera, nada me agrada demais. Ao tempo em que faço parte de um tudo, pertenço ao nada. Não há nada em mim, nem ninguém. Sinto-me fora de um mundo que eu própria criei. Estou sempre em busca de uma verdade, e toda vez que acredito que a encontrei, ela trata logo de mudar de face, de fase. E eu volto à estaca zero. Quando me sinto fora de algo, trato logo de entrar. Não para pertencer a ele, ou ele me pertencer. Apenas para observar. Acho que sou isso: um ser observador. Pronto, talvez essa seja uma definição ideal para a minha pessoa. Sabe, acho lindo e grandioso a beleza desarmônica de cada ser. Nada é perfeito, pelo menos ninguém é. E mesmo assim, as pessoas me encantam. Mas esse encantamento dura um breve instante. Logo em seguida, me canso. As formas como as pessoas vivem as suas vidas, essas verdades incertas e incoerentes que elas insistem em gritar aos quatros ventos, isso tudo me torna preguiçosa e desanimada. Daí, para não me entregar  ao vazio existencial , tento achar algo em comum que entre mim e elas, porém mal consigo achar algo em comum comigo mesma. - Quem sou eu? Pergunto-me! Essa dúvida cruel que não me permite ser algo, sem antes saber ao certo o que esse algo é, faz com que eu fuja para dentro de mim mesma. E fujo. Ao fugir crio obstáculos e barreiras para que ninguém invada a minha introspecção. Daí começo a me deparar com um vastidão de coisas que absorvi durante tanto tempo, e que não me acrescentaram nada de grandioso e puro. Desespero-me e tento fugir de mim mesma. Mas não há como. As barreiras e os obstáculos que eu criei não me permitem . E eu acabo me devorando e me tornando a minha própria predadora.